Um aluno enviou a seguinte pergunta: “Professora, o pronome oblíquo ‘lhe’ será sempre objeto indireto?”
A resposta é “não”.
De fato, o pronome “lhe” desempenha classicamente a função de objeto indireto, principalmente (mas não exclusivamente) se esse objeto é precedido das preposições “A “e “PARA”. Pode-se dizer que, quando for COMPLEMENTO VERBAL, o “lhe” será sempre objeto indireto.
Assim, o “lhe” que completa verbos transitivos indiretos e/ou verbos transitivos diretos e indiretos será objeto indireto:
Exemplo: Os professores lhe deram apoio.
Os professores: sujeito
deram: VTDI
apoio: OD
lhe: OI
ESQUEMATICAMENTE, PODEMOS RESUMIR AS FUNÇÕES DOS PRONOMES OBLÍQUOS ÁTONOS COMO COMPLEMENTOS VERBAIS ASSIM: |
O/A/OS/AS = SEMPRE OBJETO DIRETO |
LHE-LHES = SEMPRE OBJETO INDIRETO |
ME/TE/SE/NOS/VOS = PODEM FUNCIONAR TANTO COMO OBJETO DIRETO QUANTO COMO OBJETO INDIRETO (DEPENDE DO VERBO) |
Às vezes, no entanto, você verá o pronome “lhe” junto a verbos que não são transitivos indiretos e/ou transitivos diretos e indiretos. Como ocorre no caso a seguir:
Os filhos roubaram-lhe a identidade.
Observe que, nesse caso, “roubaram” é VTD e o elemento “lhe” tem um valor “possessivo”, equivalente a “Os filhos roubaram a identidade dele(a)”. Quando o “lhe” apresenta essa semântica associada à ideia de posse, é considerado adjunto adnominal.
Assim, no exemplo acima, teremos:
Os filhos: sujeito
roubaram: VTD
a identidade: OD
lhe: adjunto adnominal
Há outras situações em que o “lhe” completa o sentido de nomes, normalmente adjetivos, sendo equivalente a “a você”, “a ele(a)”. Veja:
Ninguém lhe será contrário.
Observe que o “lhe”, nesse caso”, completa o sentido do adjetivo “contrário” (Ninguém será contrário a você / a ele), sendo, portanto, um complemento nominal.
Assim, considerando o exemplo acima, temos:
Ninguém: sujeito
será: VL
contrário: predicativo do sujeito
lhe: complemento nominal
Observação: O “lhe” complemento nominal ocorrerá em orações com verbo de ligação e completará nomes adjetivos.
Há, ainda, o “lhe” que funcionará como sujeito de infinitivo. Isso ocorrerá nas estruturas com verbos causativos e/ou sensitivos acompanhados de infinitivo (LINK DO ARTIGO). Mas preste atenção: o “lhe” só aparecerá nessa função quando o infinitivo vier acompanhado de um objeto direto! Assim:
Deixei-lhe levar as roupas.
Veja que “lhe levar as roupas” é oração objetiva direta de “Deixei” e o “lhe” é sujeito do infinitivo “levar”. Isso só é possível porque, nesse caso, o infinitivo é VTD acompanhado do seu OD (as roupas).
Para entender melhor as construções com verbos causativos e/ou sensitivos seguidos de infinitivo, assista ao nosso vídeo:
Agora, assista ao vídeo a seguir, no qual tratamos das funções sintáticas do pronome “lhe”:
Um abraço!
Prof.ª Dr.ª Patrícia Corado
Rogerio Carneiro Campello
Postado 14:27h, 02 julhoÓtima explicação, professora. Só duas dúvidas.
“Os filhos roubaram a identidade dele”. Aqui o verbo não é transitivo direto E indireto? Quem rouba, rouba alguma coisa (a identidade) de alguém (dele).
Mas o interessante é que a minha maior dúvida surgiu, não do assunto deste artigo, mas disso que você escreveu no esqueminha: “ocorre quando se têm causativos ou sensitivos mais infinitivo…”. Professora, eu escreveria esse “têm” no singular, a vida inteira, em qualquer caso semelhante. Substituiria sempre por “alguém”: quando alguém tem causativos etc. Mas “causativos ou sensitivos etc.” é o sujeito da frase? Esse “se”, no caso, não indetermina o sujeito? Explique-me, por favor, para que eu corrija esse meu erro da vida inteira.
Jucimar Rodrigues
Postado 03:40h, 04 julhoRogério, sou apenas um estudante, mas enquanto a profa. não responde, tentarei te ajudar.
Acho que sua primeira dúvida é até mais complexa, porque trata-se da regência de verbos e estes costumam ter diversas variações.
No entanto, o verbo roubar na maioria das vezes é VTD (quem rouba, rouba alguma coisa ou alguém).
Exs.: Roubou o relógio. Roubou o turista. Roubaram a casa. Roubaram o prefeito.
Todas as orações acima são completas (com VTD). Combinando-as, podemos ter:
Roubou o relógio do turista. Roubaram a casa do prefeito.
As expressões “do turista” e do “do prefeito, não são OI, mas adjuntos adnominais (temos possuidor e possuído).
As frases também poderiam ser escritas assim:
Roubou o relógio dela. Roubaram a casa dele. Roubou-lhe o relógio. Roubaram-lhe a casa.
Os termos “dele”, “dela” e “lhe” permanecem sendo sintaticamente adjuntos adnominais e morfologicamente pronomes possessivos.
Já em outras frases, o verbo roubar, na minha opinião, parece possuir outras regências.
Ex.: Os ladrões roubavam no semáforo (verbo intransitivo com adjunto adverbial de lugar).
No caso acima, pode ser também que houve a elipse do objeto direto? Tipo: Os ladrões roubavam os carros no semáforo. Não tenho certeza.
Outros exemplos: O vendedor roubava na balança (verbo intransitivo com adjunto adverbial de modo?).
Nem todos os negociantes roubam (verbo intransitivo).
Os sócios da empresa roubam-se mutuamente (verbo pronominal).
Por fim, o mais próximo que encontrei de regência do verbo roubar como VTDI são:
Roubaram os turistas de todos os seus pertences.
Roubaram a todos o sossego e a alegria.
Mas, nestas frases, não seria mais correto escrevê-las da forma abaixo?
Roubaram todos os pertences dos turistas.
Roubaram o sossego e a alegria de todos.
Desse jeito, continuaria sendo adjuntos adnominais e não objetos indiretos.
Aguardemos as respostas da sapiente mestra ou demais colaboradores.
Quanto a sua outra dúvida, escreverei no próximo comentário…
Jucimar Rodrigues
Postado 18:40h, 04 julhoCorreção. Na frase: Os sócios da empresa roubam-se mutuamente. O verbo é intransitvo, estando na voz passiva sintética reflexiva.
Jucimar Rodrigues
Postado 19:12h, 04 julhoMINTO. O verbo é pronominal mesmo. Estando na voz passiva sintética recíproca.
Agora sim, kkkkk
Jucimar Rodrigues
Postado 04:40h, 04 julhoDúvidas: na frase a seguir, qual o sujeito da frase e qual a função do “se”?
“Sujeito de infinitivo ocorre quando se têm causativos ou sensitivos mais infinitivo com objeto direto explícito.”
Observa-se que no período composto acima encontramos dois verbos: ocorrer e ter. Consequentemente duas orações.
A oração principal é: Sujeito de infinitivo ocorre…
Tendo por sujeito do verbo ocorrer: sujeito de infinitivo.
A oração subordinada adverbial temporal é: …quando se têm causativos ou sensitivos mais infinitivo com objeto direto explícito.
Tendo por sujeito passivo composto do verbo ter: causativos ou sensitivos mais infinitivo com objeto direto explícito (núcleos do sujeito: causativos e sensitivos).
A oração subordinada está na voz passiva sintética porque o verbo ter é transitivo direto acompanhado do pronome apassivador “se”.
Detalhe, o pronome está antes do verbo porque ele foi atraído pela conjunção subordinativa “quando”.
Nessa situação, o objeto direto vira sujeito paciente e o verbo “ter” terá que concordar com ele.
Outro exemplo: Vendem-se casas (VTD + se = voz passiva sintética). Sujeito paciente: casas.
O “se” só poderia ser índice de indeterminação do sujeito se o verbo fosse de ligação, intransitivo ou transitivo indireto.
Para mais detalhes da função sintática do “se”, vejo no outro artigo da professora Patrícia.
https://linguaminha.com.br/artigos/pronome-se-no-esquema-para-voce/
Romeu Agostinho
Postado 09:58h, 08 agostoQUE AULA EXCELENTE!!!!PARABÉNS , MESTRA!