Nosso assunto hoje é o plural das siglas. Uma pessoa me perguntou se deve dizer as DST ou as DSTs (ou, ainda, as DST’s).
Vamos lá!
O plural das siglas é um assunto bastante controverso e, assim sendo, não há uma posição unânime quanto ao tema.
Vemos que, no Brasil, talvez por motivação eufônica, há uma preferência pelo uso da desinência de plural –s ao fim das siglas acompanhadas de determinante no plural. Assim, é muito usual o processo de concordância segundo o qual se diz “Comprei um CD.” / “Comprei dois CDs.”.
Essa construção de plural é recomendada por muitos professores e tem respaldo nas lições de mestres consagrados, como Napoleão Mendes de Almeida (Dicionário de Questões Vernáculas, 1981, p. 298).
Entre os portugueses, no entanto, a recomendação é de que as siglas não recebam essa desinência de plural. Assim, deveríamos dizer “Comprei um CD.” / “Comprei dois CD.”
Eu, pessoalmente, acho a construção “Comprei dois CD.” bem feinha, mas devo dizer que a explicação dos nossos colegas lusitanos é, a meu ver, bem convincente. Helena Figueira (www.flip.pt) argumenta que, sendo uma sigla o conjunto formado pelas letras iniciais de várias palavras, usado como uma única palavra pela soletração das letras que o compõem, pode também corresponder ao plural de uma ou mais dessas palavras, sem que as iniciais se alterem. EUA, por exemplo, é uma sigla que corresponde a um plural, Estados Unidos da América, sem que seja necessário o uso de uma marca dessa flexão. Seguindo esse raciocínio, não haveria razão lógica para acrescentar um -s às siglas, uma vez que CD poderá corresponder a Compact Disc ou a Compact Discs, assim como PM pode corresponder a Polícia Militar ou a Polícias Militares.
Vejam, queridos leitores, que a resposta não é objetiva…
Se você quiser optar pela eufonia (o que faz bem aos ouvidos) e pelo que vem sendo consagrado pelo uso em território brasileiro, use a desinência em CDs, PMs, MPs e tantas outras. Nesse caso, é bom saber que a desinência se unirá diretamente à sigla, sem o uso de apóstrofo (CD’s, PM’s, MP’s nunca!).
Se quiser seguir um padrão normativo mais rígido e – na minha humilde opinião – mais lógico, deixe a marca de plural por conta dos determinantes (Os CD; Bons PM; Outras MP…)
Voltando à pergunta que motivou a nossa postagem, penso que DST, tal como PCN, é um caso um pouquinho diferente. Por quê?
Porque DST é uma sigla que engloba um conjunto de doenças (no plural). Em regra, DST corresponde a doenças sexualmente transmissíveis. O mesmo ocorre com EUA (Estados Unidos da América), PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais). Nesses casos, penso que a marca de plural seria, de fato, um erro. Assim como ninguém usa EUAs, não se deve usar PCNs ou DSTs.
Por hoje, é só!
Um beijo e até a próxima!
Prof.ª Dr.ª Patrícia Corado
Leonardo
Postado 10:13h, 18 julhoDST não pode ser doença sexualmente transmissível? Se vc tem uma DST tem todo o conjunto ?
Língua Minha
Postado 20:28h, 20 julhoSim, Leonardo! Pode-se, hoje, designar uma doença como “uma DST”, mas isso deriva do fato de ela fazer parte de um conjunto de doenças com características comuns, ou seja, do grupo das doenças sexualmente transmissíveis. A sigla, originalmente, designa o grupo dessas doenças, Assim, a questão apresentada no artigo é que não há qualquer necessidade de se usar “DSTs”, uma vez que DST já é capaz de indicar esse plural, certo?
Obrigada pela sua visita!
Um abraço,
Patrícia
Maria Cláudia Oliveira Félix
Postado 19:29h, 24 setembroProfessora,Patrícia,em se tratando de uma resposta para um concurso,aqui no Brasil, qual seria mesmo a opção correta para esses casos,sem o “s” no final da sigla?
Língua Minha
Postado 17:27h, 04 novembroSinceramente, acho que bancas de concursos evitam temas controversos como esse… mas eu entendo que a construção sem o “s” final é “mais adequada”.
Um abraço,
Patrícia
Raimundo Nonato Ribeiro
Postado 11:50h, 18 janeiroAmei a explicação. Doravante não a colocarei, ou seja, apóstrofo em SIGLA.
Meu muito obrigado.
Língua Minha
Postado 21:26h, 15 fevereiroObrigada pelo seu gentil comentário, Raimundo!
Abraço,
Patrícia
Felipe Souza
Postado 17:40h, 09 abrilProfessora me ajuda se tem s no final ou não. vamos fazer uma camiseta estamos com dúvidas nome do grupo Amigos PDR ou fica assim Amigos PDRs
Língua Minha
Postado 06:50h, 10 abrilFelipe, como disse no artigo, eu prefiro “Amigos PDR”.
Abraço,
Patrícia
Carla Cordeiro
Postado 09:51h, 19 abrilProfessora, se quero dizer que no país existem vários IFs (institutos federais ) coloco o s ou nao?
Língua Minha
Postado 19:24h, 04 maioCarla, como digo no artigo, “a resposta não é objetiva…” rsrs
Se você quiser optar pela eufonia (o que faz bem aos ouvidos) e pelo que vem sendo consagrado pelo uso em território brasileiro, use “vários IFs”; e quiser seguir um padrão normativo mais rígido e – na minha humilde opinião – mais lógico, deixe a marca de plural por conta dos determinantes: “vários IF”.
O importante é que continuemos lutando pelos IF (ou IFs) em todo o Brasil!!!!!
Beijos,
Patrícia
Claudia Manzolillo
Postado 19:21h, 29 outubroNo plural da sigla ONG, julgo correta a forma as ONG e não ONGs.
Jorge Luiz
Postado 15:31h, 08 abrilMas cada ONG tem suas características e peculiaridades individuais que dificultam uma identidade coletiva quanto às finalidades, que nem sempre seriam assistenciais. Neste caso, talvez fosse melhor mesmo usar “as ONGs”.
Diferente das NR (Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho), um conjunto de normas distintas que atendem à mesma finalidade, e por isso o melhor plural talvez seja “as NR”, apesar de vasta literatura técnica adotar “as NRs”.
Ou os EPI (Equipamentos de Proteção Individual), os quais, apesar dos mais diversos tipos existentes, cumprem a mesma finalidade de proteger o profissional em sua atividade, e por isso, ao contrário deste termo “os EPIs”, que tem prevalecido nas abordagens técnicas, melhor seria utilizar “os EPI”.
Realmente é algo muito controverso.
Luís Carlos Braga
Postado 11:44h, 04 fevereiroEsUsA sera o plural aplicável ao nome do pais. (Risos). Eu acho que o raciocínio Lusitano é mais coerente. Penso que nome é nome e fica estranho flexioná-los (Luís, Luises; DST, DSTs)
JORGE Monteiro
Postado 20:36h, 01 abrilBoa noite. Existe plural para EPI?
Língua Minha
Postado 21:58h, 09 abrilComo eu explico no artigo, o mais usado no Brasil é os EPIs e o mais lógico e normativamente mais correto é os EPI.
Jorge Soares Luiz
Postado 13:19h, 18 outubroEquipamento é uma palavra que geralmente traduz uma pluralidade de elementos. Sendo assim, é um caso análogo ao das DST.
Por exemplo, se a recomendação é usar o EPI de proteção auricular, e posso usar simultaneamente um plug e um abafador, a existência de dois dispositivos de proteção com finalidade similar não nos obriga a citá-los no plural, como EPIs.
Leonardo Gangemi
Postado 15:43h, 09 junhoQuando a sigla termina em S, também acrescenta-se “s” (exemplo: OS (Ordem de Serviço) -> OSs)
Língua Minha
Postado 21:27h, 16 junhoComo explico no artigo, pode ser OS ou OSs.
Jorge Soares
Postado 14:42h, 12 agostoFantástico Professora, foi libertador poder fundamentar solidamente esta argumentação em assunto sempre controverso. Muito obrigado
Língua Minha
Postado 11:23h, 21 agostoObrigada pelo seu comentário, Jorge! Fique sempre por aqui! Um abraço para você!
VILE MOLINARI
Postado 11:18h, 15 outubroHavia uma regra, que não sei se em algum tempo foi ou ainda seria oficial, se no Brasil ou em Portugal, onde o plural de siglas se dava pela duplicação da inicial. Era o caso de Forças Armadas com a sigla FFAA. Atualmente, em documentos oficiais do Ministério da Defesa encontramos apenas FA.
Ingrid Martins Soares
Postado 15:53h, 23 dezembroComo devo escrever palavra Exemplo no plural abreviada?
Língua Minha
Postado 10:18h, 17 janeiroA abreviação atualmente adotada pera exemplo(s) é “ex.”.
Luciene Santoro
Postado 16:03h, 17 fevereiroNossa, Patrícia, adorei a forma como o assunto foi esclarecido!! Excelente!! Obrigada!!
Língua Minha
Postado 15:47h, 19 fevereiroObrigada, Luciene! Beijos!
SUELI CRUZ PEREIRA
Postado 11:08h, 03 maioMuito obrigada!
Gostei muito.
Parabéns pelo trabalho.
Língua Minha
Postado 11:17h, 03 maioObrigada, Sueli! Fique sempre conosco.
Um abraço!
Marcelo Jaccoud Amaral
Postado 18:43h, 18 maioCreio que o assunto peca por não perceber que existe lógica por trás do uso do s (sempre sem apóstrofo, por favor). Às vezes é difícil perceber, mas o falante sempre tem uma razão para um comportamento que é repetido e largamente difundido. Neste caso, tem a ver com a língua falada e não com a modalidade escrita. Notem que há uma clara distinção entre os casos de siglas, onde a palavra é soletrada, dos acrônimos, siglônimos e outros casos de palavras que surgiram de siglas. Ninguém questiona que o plural de becegê seja becegês, o de fenemê seja fenemês e que o de radar seja radares. Se escrevêssemos CD como cedê também ninguém questionaria, e é fácil ver a equivalência fonética entre CDs e cedês. Contudo, alguma siglas são termos já na forma plural, e não necessitam de um s para indicá-lo, como EUA ou OEA. Ninguém deve escrever o EUA, mas sempre os EUA. O argumento português de que as siglas ou acrônimos só possuem letras iniciais não se sustenta, pois uma sigla pode conter também letras intermediárias e finais, como é o caso de PETROBRAS ou UnB. A questão é simples: há uma preferência em usar o s para indicar o plural, de forma que não ocorram equívocos como “o óculos” ou “os óscar”.
Augusto Mattos
Postado 21:30h, 23 fevereiroÉ interessante notar que no Brasil existe a tendencia de pronunciar uma sigla como se fosse uma palavra (quando isso é possível, DST por exemplo não se aplica) , com isso há uma tendência natural de colocar o s no final. Se o hábito fosse pronunciar uma sigla letra a letra, a não colocação do s no final do plural não fica tão agressivo aos ouvidos.
Luciana Limoeiro
Postado 13:34h, 04 abrilExcelente! Eu já sabia disso, mas adorei ter encontrado o seu texto, pois está bem simples e, ao mesmo tempo, muito bem explicado!!! Gosto de artigos assim, que nos dão a certa de estar fazendo o certo. E, caso alguém fique na dúvida, tenho um bom artigo de uma ótima professora para mostrar…
Obrigada, vou procurar o seu instagram.
Luciana Limoeiro
Paulo Henrique Corrêa Lemos
Postado 22:54h, 04 junhoProfessora, como fica o caso de siglas terminadas em “s”. Por exemplos, Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). Seria as IFES ou as IFESs?
Rodrigo
Postado 18:15h, 08 abrilExcelente explicação! Obrigado.
Paulo Paiva
Postado 09:35h, 12 abrilParabéns pela postagem. Eu tenho uma dúvida e gostaria de sua opinião, por favor. Se a opção fosse por acrescentar o s final, o que aconteceria em casos em que só a primeira palavra varia? Por exemplo: UC, de Unidade de Conservação. Se adotar UCs, o leitor poderia ser induzido a entender Unidades de Conservações, o que não corresponderia ao correto? Nessa situação, seria melhor não adotar o s final? Obrigado.