Há algum tempo tenho sentido vontade de escrever sobre a palavra “OBRIGADO(A)(S)”.
Uma parte do meu desejo se deve, é claro, ao aspecto normativo frequentemente infringido nas aplicações cotidianas dadas ao termo pelos falantes do nosso rico e querido idioma. Outra parte tem forte relação com o fato de a língua, a meu ver, ser espaço onde se manifestam relações humanas, de tal modo que o uso dessa palavra, em detrimento de outras (é sempre assim…), revela algo significativo sobre nós e nossa cultura.
Assim, a palavra obrigado (bem como suas flexões “obrigada”, “obrigados” e “obrigadas”) é o particípio do verbo OBRIGAR, o qual vem do latim ob ligare, ou seja, estar ligado (contra) alguém. O termo ganha na língua portuguesa uma acepção de obrigação, ligação compulsória motivada por dívida. Nesse sentido, quando dizemos “obrigado(a)(s)” estamos, na realidade, revestindo o nosso sentimento de gratidão com um caráter de dívida.
A palavra “agradecido(a)(s)” é, na minha humilde opinião, mais bonita e mais adequada às manifestações de reconhecimento pelos feitos de outrem. Trata-se do também particípio do verbo agradecer (a + grado + ecer), o qual significa ser graça para, tornar-se grato, tornar-se do agrado de, tornar-se agradável a em razão do fato de ter recebido uma graça.
Quanto ao aspecto normativo, ou seja, com relação à concordância, que é o segundo motivador desta postagem, a expressão “obrigado”, por seu caráter de particípio/adjetivo, deve concordar em gênero e número com o elemento substantivo a que se refere. Assim, se um homem se sente agradecido, obrigado a retribuir um favor, deve dizer “OBRIGADO”; se dois ou mais homens (ou se um homem e uma ou mais mulheres) se sentem agradecidos, obrigados à retribuição de um feito, devem dizer “OBRIGADOS”! Do mesmo modo, uma mulher expressará sua gratidão dizendo “OBRIGADA”, assim como duas ou mais mulheres gratas dirão “OBRIGADAS”.
Há entre os estudiosos a ideia de que “obrigado” é uma expressão que se distanciou do seu cunho etimológico e de sua matriz de particípio/adjetivo, funcionando atualmente como uma interjeição, o que livraria a expressão das relações de concordância nominal. Essa não é, no entanto, a recomendação da tradição gramatical, a qual orienta para a concordância nominal padrão.
A vocês, minha gratidão…
Por hoje, é só! Obrigada! Ou melhor… Agradecida!
Beijinhos,
Prof.ª Dr.ª Patrícia Corado
Eduardo
Postado 00:25h, 15 outubroGostei da explicação.
Agradecido.
Língua Minha
Postado 16:56h, 04 novembroFico feliz, Eduardo!
Grata! rsrs
Um abraço,
Patrícia
Luiz Fernando Bastos de Araujo
Postado 14:48h, 22 julhoTambém prefiro usar agradecido…
Língua Minha
Postado 13:58h, 18 outubroEu acho mais bonito, mas devo confessar que uso mais o “obrigada”.
Um abraço!
Patrícia
Carmelita Corado
Postado 21:14h, 05 dezembroAgradecida pela explicação!
Língua Minha
Postado 10:28h, 17 janeiroRsrsrs Carmelita, será que somos parentes?