O pretérito mais-que-perfeito é um tempo verbal considerado por muitos como “obsoleto”. Não raramente alunos me dizem “Professora, ninguém usa o pretérito mais-que-perfeito!”.
Eu diria a vocês que, de fato, em sua forma simples (formada com a desinência modo-temporal “-ra-“ ou “-re-“), esse tempo é pouco usado no português contemporâneo, especialmente no português falado.
Entretanto, em sua forma composta (formada com ter ou haver, no pretérito imperfeito do indicativo, e particípio), o pretérito mais-que-perfeito é usado por todos nós diariamente.
Ou seja, pouca gente diria “Gostei muito do presente que João comprara para mim.”, mas diríamos facilmente “Gostei muito do presente que João tinha comprado para mim.”.
COMPRARA (PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO SIMPLES) = TINHA COMPRADO (PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO COMPOSTO).
Acho que, agora, comparando a forma simples com a forma composta, fica mais fácil perceber qual é a principal expressão temporal do pretérito mais-que-perfeito: expressar uma ação passada que ocorreu antes de outra ação passada. Observe que a ação de gostar (gostei) é passada, mas a ação de comprar (comprara / tinha comprado), que também é passada, aconteceu primeiro, ou seja, é anterior à ação também passada de “gostar” (gostei).
Veja que, se eu disser “Quando voltei, a flor desapareceu.”, haverá a impressão de que a flor desapareceu depois que eu voltei. Mas, se eu disser “Quando voltei, a flor tinha desaparecido (ou desaparecera)”, o sentido será de que a flor desapareceu antes da minha volta.
Além dessa conotação já mencionada, o pretérito mais-que-perfeito simples é empregado, sobretudo em uma linguagem mais formal, em lugar do pretérito imperfeito do subjuntivo.
Ex.: Ele me cumprimentou como se fôramos grandes amigos = Ele me cumprimentou como se fôssemos grandes amigos.
Há, ainda, um uso do pretérito mais-que-perfeito simples que é bastante corriqueiro. Trata-se da aplicação em frases, principalmente de cunho exclamativo, que designam desejo.
Ex.: Quem me dera! / Ele pediu desculpas? Pudera!/ Quisera eu ter a possibilidade de conhecer a Europa…
Veja que as formas destacadas (dera / pudera/ quisera) estão flexionadas no pretérito mais-que-perfeito do indicativo.
Pode-se encontrara também o pretérito mais-que-perfeito simples na expressão de ações vagamente situadas no passado.
Ex.: Estudara, casara, mas não tivera filhos…
Assista ao vídeo em que explico o assunto:
Por hoje, é só!
Um abraço,
Prof.ª Dr.ª Patrícia Corado
Joelaine Ramos de Matos Santos
Postado 18:48h, 01 dezembroQue aula maravilhosa.obrigada professora Patrícia.espero ansiosamente por cada post e vídeo novo que a senhora pública.o melhor conteúdo de língua portuguesa que encontrei na internet.por favor continue com este digníssimo trabalho e muito obrigada por nos ajudar.bjs . joelaine de Areia Branca Sergipe
Mateus
Postado 17:04h, 25 novembroO pretérito mais que perfeito composto pode facilmente ser substituído pelo pretérito perfeito simples. De um ponto de vista estilístico, acho muito mais eficiente e bonito também. E na prática não muda o sentido da frase, porque no dia a dia esse tipo de tempo verbal caiu em desuso.
Vítor Moreira
Postado 09:18h, 21 novembroEm língua castelhana (espanhola), o pretérito imperfeito do subjuntivo tem duas formas, mas a mais comum é muito parecida com a do nosso pretérito mais-que-perfeito simples do indicativo e é usada também para exprimir desejos: “¡Quisiera mucho ir a España!” (Queria/quisera muito ir à Espanha!)
Deve haver uma motivação etimológica por trás disso, pesquisando a respeito disso encontrei este artigo, que por sinal é muito bom. Obrigado e parabéns!