Tenho hoje o prazer de colocar aqui no nosso site um artigo da minha querida aluna e amiga Érica Portas. Fiquem com ela para uma explicação inteligente e definitiva sobre a os usos de DEMAIS e DE MAIS.
Demais ou de mais?
Demais (uma palavra)
De mais (preposição, que pode ser expletiva ou não, + mais, que pode ser advérbio, pronome adjetivo, adjetivo ou núcleo de locução adjetiva)
Eu comi demais/ muito.
Ela é linda demais/muito.
Estou perto demais/muito.
Nesses casos, a palavra DEMAIS é substituída pelo muito. Pode-se ver que DEMAIS é advérbio, pois se refere, nos exemplos acima, respectivamente, a um verbo, a um adjetivo e a um advérbio.
Agora, observemos os exemplos abaixo.
1) Eu não vi nada de mais grave.
Eu não vi nada de menos grave, de muito grave.
Veja que, nesse caso, substituiu-se APENAS o “MAIS”, a preposição se manteve, pois é um termo à parte do vocábulo MAIS. Logo, grafam-se separadamente a preposição e o mais. Entretanto, há a possibilidade de dizermos “não há nada menos/ muito grave”.
Será, então, que o menos e o muito estariam substituindo o DE MAIS e a teoria acima cairia por terra?
Claro que não. Observemos que, nessa situação, a preposição poderia manter-se, ratificando que o MAIS é uma palavra independente do de:
Não há nada de menos grave/de muito grave.
É o valor expletivo da preposição que a permite ser retirada da frase.
Observação: veja que não substituímos o MAIS apenas pelo MENOS, usamos também o MUITO. Sabe por quê??? Porque “de menos” – escrito assim mesmo: SEPARADO- pode, informalmente, ser o ANTÔNIMO de DEMAIS, o que confunde a avaliação para verificar se temos uma palavra ou a preposição e o vocábulo mais.
Bebi demais hoje/muito.
Bebi de menos hoje/pouco.
Porém, quando o “de menos” é antônimo de demais, todo ele é equivalente à palavra pouco, como se vê acima.
Vamos a mais exemplos:
2) Eu gosto de mais feijão no prato.
Eu gosto de menos feijão, de muito feijão no prato.
Novamente, as palavras menos e muito substituem APENAS o mais.
Vejamos que a preposição aqui não é expletiva, diferentemente daquela do exemplo ” não há nada de mais grave”. Na frase “Eu gosto de mais feijão”, ela faz parte da regência do verbo gostar, não podendo ser retirada.
Em relação à classe do MAIS nos exemplos dados, podemos dizer o seguinte:
No exemplo 1, é advérbio e, no 2, é pronome adjetivo.
Ele ainda pode funcionar, conforme já disséramos, como adjetivo.
VAMOS A UM EXEMPLO :
NÃO HÁ NADA DE MAIS EM COMER POUCO.
NÃO HÁ NADA DE ERRADO EM COMER POUCO.
Veja que, no exemplo citado, o Mais tem valor adjetivo, podendo, assim, ser substituído por “errado”.
Ah, vejamos que a preposição que o acompanha pode ser suprimida, como a do exemplo 1. Tal fato se dá pelo valor expletivo, já visto.
Logo, para saber se vamos escrever “demais” ou “de mais”, devemos utilizar o processo da substituiçāo, entendendo que, se substituirmos APENAS o MAIS por outro vocábulo, teremos nesse termo uma palavra independente da preposição, ou seja, teremos “de mais”. Se não pudermos fazer isso, teremos a palavra “demais”. Entretanto, quando a palavra “de mais” forma uma locução adjetiva, como seu núcleo é composto por um pronome indefinido e a locução tende a funcionar como uma palavra, ela pode ser substituída por outros pronomes indefinidos:
Vi histórias de mais ali.
Vi muitas histórias ali.
Nesse caso, não há de se confundir a escrita, pois DEMAIS é advérbio, não podendo, portanto, referir-se a um substantivo, ou seja, não podendo, portanto, exercer função adjetiva.
Havia bolo de mais na festa.
Havia muito bolo na festa.
Veja que esse muito não é advérbio, ele substitui a locução adjetiva “de mais”. Ele refere-se ao substantivo bolo: se colocarmos “bolo” no plural, muito concordará com ele.
Havia muitos bolos na festa.
Logo, temos naquele “de mais” uma grafia separada.
Assim:
DEMAIS ⇒ É substituído pelo muito, bastante (invariáveis).
Ela falou demais/muito.
DE MAIS ⇒ APENAS o mais é substituído por menos/muito.
Ela fez um bolo de mais de dois andares/ de menos.
Pode ser substituído por muito, bastante (variável).
Ela conta mentira de mais/ Ela conta muitas mentiras.
*Vejam que, no exemplo “Ela fez um bolo de mais de dois andares/ de menos”, não poderíamos usar o MUITO para substituir o MAIS, pudemos usar, pela semântica da expressão “mais de”, somente o MENOS. No entanto, não há a possibilidade de achar que temos a expressão “de menos”, antônimo de DEMAIS, e que não temos a substituição apenas do mais, pois não há como substituir esse possível “de menos” por “pouco”:
Ela fez um bolo de menos de dois andares.
* Ela fez um bolo pouco de dois andares.
Érica Portas do Nascimento
Mestre em Língua Portuguesa – UERJ
Doutoranda em Língua Portuguesa – UERJ
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