FONOLOGIA
Confesso que o assunto desta postagem é um daqueles que eu sempre deixo para depois. Isso ocorre porque não é um tema muito cobrado em provas, porque eu acho que a matéria não despertará o interesse dos leitores do site… Sei lá! O fato é que hoje, atendendo ao pedido de um aluno muito querido, decidi abordar o tema! Tomara que lhes seja útil!
Antes de qualquer outra coisa, é importante termos em mente que os tópicos de que trataremos pertencem ao estudo da fonologia (fono = “som, voz” + logia = “estudo”, “conhecimento”). Ou seja, nossa atenção estará voltada para os sons da língua, ok?
Assim, impõe-se uma primeira e fundamental distinção: FONEMAS NÃO SÃO LETRAS!!!
FONEMA é uma realidade acústica, uma realidade registrada pelos nossos ouvidos; LETRA é o sinal empregado para representar, na escrita, o sistema sonoro da língua. Na nossa língua, muitas vezes não há identidade perfeita entre os fonemas e a maneira de representá-los na escrita. Por isso, como exemplo, o som representado pelo S na palavra SAPO é diferente do representado na palavra CASA.
Essa correspondência “imperfeita” entre os sons da fala (fonemas) e as suas representações gráficas (letras) gerará, muitas vezes, um número de letras diferente do número de fonemas de uma palavra.
Na palavra FIXO, por exemplo, temos 5 fonemas (/f/i/k/s/o/) e 4 letras (f, i, x, o). Na palavra CARRO, por sua vez, temos 4 fonemas (/k/a/R/o/) e 5 letras (c, a, r, r, o).
Quando uma mesma letra representa dois fonemas, como ocorre com o X na palavra “fixo”, dizemos que há um DÍFONO (2 sons para 1 letra).
Se duas letras representam um único som, dizemos que há DÍGRAFO (2 letras para um som), como é o caso de RR na palavra “carro”.
Na língua portuguesa, só temos um dífono, que é exatamente o X que tem som “/k/s/”, como em “fixo”, “tóxico”, “ônix”.
Dígrafos, no entanto, são vários e, com o intuito de facilitar os seus estudos, eu os listarei a seguir:
Note que nos exemplos de 12 a 16, as letras M e N não representam fonemas, elas na verdade são nasalizadoras da vogal anterior; trata-se de uma “letra diacrítica”, ou seja, uma letra que ali está não para representar um fonema, mas para modificar o valor fonético da letra anterior, constituindo assim um dígrafo.
Quando o dígrafo resulta em um som consonantal, dizemos que se trata de um DÍGRAFO CONSONANTAL (exemplos de 1 a 11). Quando um dígrafo resulta em um som vocálico, dizemos que se trata de um DÍGRAFO VOCÁLICO (exemplos de 12 a 16)
ENCONTROS VOCÁLICOS
Na nossa língua, a base da sílaba (ou o elemento silábico) é a vogal. Assim, não há sílaba sem vogal. Podemos, portanto, pensar que a vogal é a protagonista da sílaba. Uma protagonista um tanto egocêntrica, daquelas que não aceitam dividir o estrelato com ninguém. Então, quando em uma mesma sílaba há dois (ou três) elementos vocálicos, apenas um desses elementos será considerado vogal, sendo os demais chamados de semivogais (coadjuvantes).
Quando vogais se encontram na mesma sílaba, o “A” sempre representará a vogal; o mesmo ocorrerá com o “E” (que tiver efetivo som de /E/, como em “PEIXE”) e com o “O” (que tiver efetivo som de /O/, como em “COISA”). Quando o “E”, nos encontros de vogais na mesma sílaba, assume som de /i/, ele é considerado uma semivogal, como acontece em “MÃE” (/mãi/). Do mesmo modo, quando o “O”, nos encontros de vogais na mesma sílaba, assume som de /u/, é considerado uma semivogal, como ocorre em “MÃO” (/mãu/).
Quanto ao “I” e ao “U”, os elementos, quando se encontram com A, E ou O na mesma sílaba, são semivogais. Se o encontro ocorre entre os próprios “I” e “U”, o que aparecer primeiro tende a protagonizar a sílaba e ser a vogal, cabendo, normalmente, ao que aparecer depois o papel de semivogal (ex.: MUITO – u = vogal / i = semivogal; VIU – i = vogal / U = semivogal.). Entretanto, o “U” pronunciado entre “G” ou “Q” e uma outra vogal, como acontece em “LINGUIÇA” e “AQUÍFERO”, será a semivogal do encontro vocálico. Observe que, nesses casos o U é pronunciado, portanto, constitui fonema. Não confunda com os casos de GU e QU em que o U não é pronunciado. Nessas situações haverá DÍGRAFO!!!!
CLASSIFICAÇÃO DOS ENCONTROS VOCÁLICOS:
Chamaremos de DITONGO o encontro de uma vogal e uma semivogal (ou vice-versa) numa mesma sílaba. Os DITONGOS podem ser
Crescentes: quando a semivogal vem antes da vogal. Ex.: quase
Decrescentes: quando a vogal vem antes da semivogal. Ex.: pai
Orais: quando o ar sai apenas pela boca. Ex.: mau
Nasais: quando o ar sai pela boca e pelas fossas nasais. Ex.:mão
IMPORTANTE: Em terminações AM, EM e OM (falavam, porém, bom) ocorrem ditongos nasais decrescentes, uma vez que, na fala (que é o objeto de estudo aqui, lembram?), aparecem semivogais /u/ e /i/ após as vogais nasalizadas pelo “M”.
Recebe o nome de TRITONGO a sequência formada por uma semivogal, uma vogal e uma semivogal, sempre nessa ordem, numa só sílaba. Os TRITONGOS podem ser
Orais: quando o ar sai apenas pela boca. Ex.: Uruguai
Nasais: quando o ar sai pela boca e pelas fossas nasais. Ex.: saguão
Se vogais se encontram em uma palavra, mas cada uma fica em uma sílaba diferente, temos um HIATO. Nesse caso ambos os elementos serão VOGAIS e cada vogal será protagonista de sua própria sílaba. Ex.: saúde (sa–ú-de); poeta (po–e-ta).
IMPORTANTE: Chamam-se “falsos hiatos” os encontros entre uma semivogal e uma vogal ou entre uma vogal e uma semivogal que pertencem a sílabas diferentes, como em pla-tei-a. Veja que, nesse caso, temos um ditongo decrescente (“ei”, em que “e” é a vogal e “i” é a semivogal) e uma hiato (ou “falso hiato”) entre a semivogal “i” e a vogal “a”.
ENCONTROS CONSONANTAIS
Dá-se o nome de ENCONTRO CONSONANTAL ao agrupamento de duas ou mais consoantes, sem vogal intermediária. É fundamental que você perceba que, nos encontros consonantais (diferentemente do que ocorre com os dígrafos), cada consoante é pronunciada, ou seja, cada uma representa um fonema consonantal!
Os encontros consonantais mais frequentes são aqueles em que a segunda consoante é L ou R: bloco; branco; teclado; credo; vidro; flor; fruta; glacial; grade; planta; prato; atleta; treco; palavra. Nesses casos, como as duas consoantes ficam na mesma sílaba, o encontro consonantal será chamado de PURO (ou PERFEITO).
Encontros “gm”, “mn”, “pn”, “ps”, “pt”, “tm”, no início das palavras, também ficam na mesma sílaba, sendo também “puros” ou “perfeitos”. Ex.: gnomo; mnemônico; pneumático; psicólogo; ptialina (é uma enzima da saliva, tá?), tmese (é o procedimento pelo qual se divide uma palavra, colocando-se outra no meio, como fazemos nas mesóclises).
Há também os encontros de consoantes pertencentes a sílabas diferentes, como acontece em cor–da, rit–mo, tes–ta. Nesses casos os encontros consonantais são chamados de DISJUNTOS ou IMPERFEITOS.
Na aula a seguir, começo fazendo uma revisão sobre algumas regras de acentuação gráfica (ACENTUAÇÃO ; PROPAROXÍTONAS EVENTUAIS) e, na sequência, explico os temas abordados neste artigo.
Prof.ª Dr.ª Patrícia Corado
Rogerio Carneiro Campello
Postado 16:31h, 14 abrilAinda existem aquelas classificações dos fonemas? Bilabial, linguodental (surdas e sonoras), palatal etc.?
Obrigado.
CharlianeMirandada Silva
Postado 14:01h, 23 junhoPerfeito!