Se você já estudou Português, deve lembrar-se de que há pronomes pessoais do caso reto e pronomes pessoais do caso oblíquo. Por que são pessoais? Porque esses pronomes têm a função de identificar as pessoas do discurso (1ª, 2ª e 3ª). Agora, que caso é esse? Caso, nesse caso (ops..), diz respeito a cada uma das formas que uma palavra assume em razão da sua função sintática. Nas línguas de declinação, como é o caso do latim, as palavras se modificam a depender da função sintática que desempenham. Assim, a existência de pronomes para o caso reto e pronomes para o caso oblíquo nada mais é do que herança deixada pelo latim para a nossa amada Língua Portuguesa.
Então, os pronomes do caso reto seriam, de uma forma bem didática, aqueles que mantêm uma relação sintática “reta” com o verbo, classicamente a função de sujeito, mas também a função de predicativo.
Os pronomes do caso oblíquo, por sua vez, mantêm uma relação “oblíqua”, hierarquizada, com o verbo, desempenhando funções de complementos e adjuntos.
Assim, amigo, quando alguém disser “Isso é para mim fazer.”, o erro não tem nada a ver com nossos índios… Esse “mim” (oblíquo) não pode estar aí porque se trata do sujeito da forma verbal “fazer”, função que deve ser ocupada pela forma reta “eu”.
Pela mesma via de raciocínio, se alguém, apaixonadamente, disser “Amo ela!”, o problema gramatical nada tem a ver com a “moela” da galinha ou de quem que se seja. O problema é que a forma “ela” está desempenhando uma função oblíqua, a função de objeto direto do verbo, devendo, pois, ser substituída pelo pronome oblíquo que desempenha essa função, ou seja, a forma “a” (“Amo-a!”).
A esta altura você deve estar me questionando, dizendo, por exemplo, que em “Eu me refiro a ela.” a forma “ela”, que os manuais escolares apontam como uma forma reta, está funcionando como objeto indireto do verbo e não há qualquer problema com essa construção! De fato! Você tem razão! Acontece que algumas formas retas, como você verá na tabela abaixo, têm elemento idêntico na casa dos oblíquos tônicos, os quais aparecem em funções que, além de oblíquas, são preposicionadas, ou seja, antecedidas de preposição.
Então, em resumo, o que temos:
PRONOMES RETOS |
PRONOMES OBLÍQUOS |
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eu |
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tu |
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ele / ela |
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nós |
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vós |
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eles / elas |
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Usados nas funções de SUJEITO e PREDICATIVO. |
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Agora, façamos um teste, substituindo o substantivo MARIA pelo pronome pessoal, conforme o caso:
Maria faz coisas lindas.
Maria = Sujeito = pronome reto = Ela faz coisas lindas.
Amo Maria!
Maria = Objeto Direto = pronome oblíquo átono = Amo-a.
Dependo de Maria.
Maria = Objeto Indireto (função precedida de preposição) = pronome oblíquo tônico = Dependo dela (de + ela).
Não vivo sem Maria.
Maria = adjunto adverbial (função precedida de preposição) = pronome oblíquo tônico = Não vivo sem ela.
Assim, após preposições, use, de forma geral, as formas oblíquas, excetuando-se, é claro, os casos em que esse pronome for sujeito de uma forma verbal por vir. Ex.: “Não saia sem mim.”; “Não saia sem eu autorizar“; “Isso é assunto entre mim e João.”. Nesse último exemplo, há gramáticos que fazem a concessão do uso da forma reta se o pronome vier em segundo lugar (“Isso é assunto entre João e eu.”), mas o rigor gramatical permanece recomendando o uso dos oblíquos tônicos: “Isso é assunto entre mim e João.” ou “Isso é assunto entre João e mim”. Isso mesmo!!!!!
O uso da preposição “com” antes das formas oblíquas tônicas gera as formas: comigo, contigo, conosco… Você deve ter sentido falta dessas formas; não as coloquei na tabelinha porque, a rigor, não constituem pronomes oblíquos, mas a fusão da preposição “com” + o pronome oblíquo tônico (com + mim = comigo; com + ti = contigo; com + si = consigo; com + nós= conosco; com + vós = convosco). Vale sublinhar a esse respeito que é possível usar as formas “com nós” e “com vós” quando os pronomes vêm reforçados por outros, mesmos, próprios, todos ou por qualquer numeral. Ex.: “Ele falou conosco.” ou “Ele falou com nós todos.”.
Não posso encerrar sem falar do “Deixa eu dizer que te amo”, letra de uma música linda e frase que está lá em cima, na abertura deste post, numa imagem que eu amei!!!! Veja que, nesse exemplo, a forma reta “eu” é, para muitos estudiosos*, a um só tempo, objeto direto de “deixa” e sujeito de “dizer”? E agora? Se uso reto para sujeito, devo usar o reto “eu”; mas, se também é objeto direto, deveria usar a forma oblíqua átona “me”… E agora, José? Nesses casos, apesar da larga preferência dos falantes pela forma reta, recomenda-se o uso do oblíquo, constituindo-se ocorrência de exceção, em que o pronome oblíquo aparecerá como sujeito. Ou seja: Deixa-me dizer que te amo!!!!!
* Digo “para muitos estudiosos” porque essa análise não é uma unanimidade. O professor Bechara, por exemplo, entende que o objeto do “deixa” não é o pronome, mas a oração inteira. Veja essa explicação no artigo https://www.linguaminha.com.br/artigos/causativo-ou-sensitivo-infinitivo/.
Mas, pelo bem da melodia, deixemos a música como está…
Outra dúvida frequente diz respeito ao uso das formas oblíquas de 3ª pessoa nas funções de complementos verbais (objeto direto e objeto indireto). Sobre esse assunto, assista aos vídeos a seguir:
1) A ______ sempre dizem a verdade. (ti; te; tu)
[linguaminha more=”GABARITO” less=”Esconder Respostas”]GABARITO: TI[/linguaminha]
2) As notícias chegaram até ______. (eu; mim; me)
[linguaminha more=”GABARITO” less=”Esconder Respostas”]GABARITO: MIM[/linguaminha]
3) Entre ______ e ______ não há segredos. (mim e ti; eu e ti; eu e tu)
[linguaminha more=”GABARITO” less=”Esconder Respostas”]GABARITO: MIM e TI[/linguaminha]
4) _________ sair. (Mandei-o; Mandei-lhe; Mandei ele)
[linguaminha more=”GABARITO” less=”Esconder Respostas”]GABARITO: MANDEI-O[/linguaminha]
5) Houve problemas _________ dois. (conosco; com nós)
[linguaminha more=”GABARITO” less=”Esconder Respostas”]GABARITO: COM NÓS[/linguaminha]
6) José trouxe o livro para ________ ler. (mim; eu)
[linguaminha more=”GABARITO” less=”Esconder Respostas”]GABARITO: EU[/linguaminha]
7) Para ______, ler não é problema. (mim; eu)
[linguaminha more=”GABARITO” less=”Esconder Respostas”]GABARITO: MIM[/linguaminha]
8) Devolverei a _______ os livros que me emprestaste. (tu, te, ti)
[linguaminha more=”GABARITO” less=”Esconder Respostas”]GABARITO: TI[/linguaminha]
Por hoje é só!
Um grande abraço!
Prof.ª Dr.ª Patrícia Corado
Joana Infante
Postado 09:29h, 20 setembroBom dia, professora! Que maravilha de artigo! Muito esclarecedor!
Patrícia Corado
Postado 21:25h, 20 setembroOi, Joana! Obrigada pelo seu comentário sempre tão gentil!!! Coloquei uma mensagem sua na nossa área de depoimentos. Você viu? Beijos!!!!
Tânia Dourado
Postado 09:07h, 27 janeiroVocê é única. SENSACIONAL! Parabéns pelo lindo trabalho.
Língua Minha
Postado 11:09h, 27 janeiroOi, Tânia!!!! Que delícia de mensagem!!!! Obrigada pelo carinho! Fique sempre conosco!
Beijos!
Maria luciana ribeiro carvalho
Postado 15:22h, 02 abrilProfessora excelente gostei da sua explicação agradeço Beijos.
Patrícia Corado
Postado 18:36h, 06 abrilOi, Maria Luciana! Obrigada pelo carinhoso comentário! Fique sempre conosco!!!!
Um abraço,
Patrícia
marcele
Postado 04:44h, 25 abrilParabens! sensacional professora !
Língua Minha
Postado 09:03h, 04 maioOi, Marcele! Obrigada pelo seu gentil comentário! Um abraço!
joao teixeira
Postado 11:01h, 01 fevereiroBOM DIA, PROFESSORA!
PLAGIANDO A UNIVERSAL `´ EU SOU PATRÍCIA CORADO`´
MUITO ESCLARECEDOR.
Língua Minha
Postado 12:50h, 05 fevereirokkkkkk Só você, João!
Obrigada!!!!
Beijos,
Patrícia
Robson Rachid
Postado 09:00h, 25 junhoBom dia,
Qual o erro da frase:
“Ninguém o perdoará, Antônio?”
Robson Rachid
Postado 09:01h, 25 junhoBom dia,
Qual o erro da frase
“Ninguém o perdoará, Antônio” ?
Língua Minha
Postado 21:14h, 17 outubroRobson, quando o objeto do verbo PERDOAR é pessoa, esse verbo é transitivo indireto. O correto seria “Ninguém lhe perdoará, Antônio”.
Obrigada pela sua visita!
Um abraço,
Patrícia
Igor Alves
Postado 19:51h, 25 julhoProfessora, você é simplesmente incrível. Queria eu ter tido português dessa forma, provavelmente eu iria amar. Estou aprendendo a gostar de português graças a você.
Que continue fazendo muitas pessoas gostarem de português como eu e verem que não é esse bicho de 7 cabeças.
Abraço, sou seu fã de carteirinha.
Língua Minha
Postado 21:12h, 17 outubroIgor, obrigada por essas palavras tão gentis!!! Fico muito feliz!!!
Um abraço,
Patrícia
Gislei SIlva
Postado 08:32h, 17 fevereiroBom dia Professora. É correto a utilização do pronome pessoal para tratamento de pessoa jurídica, por exemplo, utilizar “ela” para substituir o nome de uma empresa?